23 de maio de 2009

"Não sou um tipo de pessoa clichê e não me encaixo em categorias"

Zahra Rahnavard (Irã)





"Candidata" a primeira-dama personifica a voz reformista no Irã

Há quatro candidatos para a eleição presidencial no Irã - todos homens -, mas a pessoa que surgiu como mais intrigante na campanha até agora é uma mulher: a esposa de Mir-Hossein Moussavi, o candidato reformista.
O conceito de primeira-dama não existe no Irã desde que a revolução de 1979 pôs fim ao papel cerimonial ocupado pela última rainha, Farah.
Desde então os presidentes do Irã evitaram amplamente aparições públicas com suas mulheres.Mas Zahra Rahnavard está decidida a mudar isso se seu marido for eleito depois da votação de 12 de junho.
Ela já deixou de lado anos de tradição para fazer campanha e acompanhar Moussavi, que foi primeiro-ministro entre 1981 e 1989, nos comícios eleitorais. Ela ainda não entrou em conflito com o establishment clerical conservador, cujas tradições ignora. Mas analistas indicam que até agora as pesquisas de opinião oficiosas colocam Mahmoud Ahmadinejad, o presidente fundamentalista, como provável vencedor de um segundo mandato. Se as porcentagens de Moussavi aumentarem, a mãe de três filhos poderá ter seu papel mais examinado.
Moussavi chocou muita gente - incluindo outros candidatos reformistas - quando decidiu desafiar Ahmadinejad para a presidência.
Depois de seu mandato como primeiro-ministro na década de 1980, ele desapareceu da política e se tornou pintor, surgindo apenas este ano para contestar a atuação econômica do governo, muito criticada, e fazer campanha por maior justiça social. Esse exílio político auto-imposto significa que Moussavi é um virtual desconhecido para os jovens que formam a maioria da população iraniana, de 70 milhões.
Sua mulher, que é escultora e escritora, porém, é um potencial modelo para os jovens e as mulheres. Unindo-se a Moussavi na campanha em Teerã e outras cidades - às vezes de mãos dadas -, Rahnavard é cada vez mais vista, até por alguns campos rivais, como um verdadeiro trunfo do candidato. Em uma recente reunião política ela foi cumprimentada com a mesma aclamação que seu marido e o ex-presidente reformista Mohamed Khatami receberam.
Rahnavard diz que a decisão de seu marido de disputar a presidência foi impelida por um "compromisso com a prosperidade da população"."Moussavi e eu nos dirigimos a toda a nação iraniana e em particular às mulheres, aos jovens e estudantes", ela diz. "Nossas mensagens aos iranianos durante os comícios são [encorajar] a liberdade de pensamentos, abrir o ambiente [político], estabelecer uma economia sólida, aumentar a participação do público... eliminar a discriminação contra as mulheres, criar oportunidades de emprego... e ajudar os jovens a pensar livremente."A mulher de Ahmadinejad dirige um colégio em Teerã, mas raramente ou nunca é vista com seu marido em público. Mas Rahnavard acredita que seu próprio envolvimento na campanha já teve um impacto significativo nas atitudes de outros candidatos - incluindo Mohsen Rezaei, o ex-comandante da Guarda Revolucionária -, que começam a envolver suas mulheres.
Vestida em um chador preto da cabeça aos pés, ela é franca sobre seu passado antes da revolução, quando não usava o hijab ou véu islâmico, mas se vestia em um estilo mais ocidental. Alguns temeram que isso pudesse ser usado contra a campanha de Moussavi se truques sujos fossem adotados. Mas até agora não aconteceu.
Ela insiste que, assim como sua arte - em que mistura modernismo com elementos mais tradicionais para produzir centenas de pinturas expressionistas e abstratas e esculturas feitas de pedra, vidro, madeira, ferro e bronze -, ela não deve ser classificada."Não sou um tipo de pessoa clichê e não me encaixo em categorias", ela diz.
Se seu marido se tornar presidente Rahnavard admite que a vida que a família levou nos últimos 20 anos será transformada. "O que eu estou vivendo hoje [a campanha] é caótico e contraria minha vida artística, que precisa de delicadeza e beleza", ela diz. No entanto, ela é determinada: "Moussavi e eu entramos em cena para superar os fracassos [políticos e econômicos]".


Fonte: Financial Times - Najmeh Bozorgmehr
Tradução Luiz Roberto Mendes Gonçalves (uol notícias)

Um comentário:

Anônimo disse...

Muitas pessoas têm nas mãos o poder transformador. Outras, nas atitudes, há ainda os que tem nos olhos, nos gestos, há os que transformam com um sorriso. As mulheres, esses seres fantásticos e sensíveis tem todas estas opções. A mulher é revolucionária por condição.
Já com novo visual o blog hein? Parabéns.. estou gostando de ver isso!!! PARABÉNS!!

Liliana