23 de fevereiro de 2012

Nossos braços
Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios e, se faltar luz, tanto melhor. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve. Que lugar melhor para um recém-nascido, para um recém-chegado, para um recém-demitido, para um recém-contratado? Dentro de um abraço nenhuma situação é incerta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso. O rosto contra o peito de quem te abraça, as batidas do coração dele e as suas, o silêncio que sempre se faz durante esse envolvimento físico: nada há para se reivindicar ou agradecer, dentro de um abraço voz nenhuma se faz necessária, está tudo dito.
(Trecho de FELIZ POR NADA de Martha Medeiros)

14 de fevereiro de 2012

Sem correção

É mais ou menos assim
Uma menina nasceu numa pequena cidade, aquelas típicas de interior. Lá todos se conheciam. Ao menos superficialmente. Tudo era seguro, os muros eram baixos.
A menina amadureceu rapidamente devido a várias pedras que surgiram em seu caminho. Mas, mesmo assim, crescendo, continuou sonhadora. Sempre teve vontade de conhecer o mar.
Se banhava feliz em um rio. No entanto, imaginava um dia sentir o gosto da água salgada, o balanço das ondas, diferente do inerte e previsível rio, e o cheiro, há o cheiro... deveria ser de felicidade.
Um certo dia - agora a menina já se tornara uma mulher- como em conto de fadas, ela reencontra um velho amigo, que a muitos anos não se viam. Ele havia saído da cidade. Que grata surpresa tiveram os dois com o resgate de tantas boas lembranças de outrora. Mas, o principal motivo para que o destino tivesse promovido esse encontro era o que estava por vim. O velho amigo, lhe falava do mar. O mar que a menina-mulher tanto tinha vontade de viver. E fizeram planos para conhece-lo. Ela imaginava como seria viver essa experiência que tanto sonhou a vida toda. Os dois viajavam na imaginação. E ela já tinha uma mala cheinha de expectativas. Melhor dizer, de certezas.
E o dia finalmente chegou! Imaginem o tanto de alegria que nem cabia nela. Partiram para a cidade litorânea. A viagem não podia ter sido melhor. A companhia que um era para o outro tinha sabor de jambo roxo no mês de Janeiro. Ela estava ansiosa do que estava por vim, por ver e sentir.
Finalmente chegaram a praia. Foi a visão da imensidão, do infinito. Era tudo que ela sempre imaginou. Ele parecia feliz.
Depois de olharem juntos a beleza da dança das ondas, de ouvirem a música que elas ao arrebentarem e junto com o som do vento tocavam e sentirem o cheiro da tal felicidade que vinha do mar, era hora de se lançar na água morna, como para que se encher de tudo aquilo. Subitamente, ele, que nesse momento passou a ser menino aos olhos dela (também isso não podia ser, ela ficou muito confusa), resolveu que iria levá-la de volta. Que ali, diante do mar, nem mais um passo ela daria senão de volta para casa. Argumentou ele, que não havia se dado conta do perigo que o mar oferece. Que tal risco não deveriam correr. Questionado muitas vezes por ela, que pedia apenas para molhar os pés, ao menos isso, ele se reservou o direito de falar que apenas mudou de ideia. De volta para casa, a mulher, se viu desfeita. Agora se sentia como criança que sequer tinha um sonho para acalentar e continuar sendo meio feliz. O rio que se banhava estava ali, exatamente como era antes, mas para ela, ele tinha ficado tão pequeno e tão seco que não podia mais para ele olhar sem chorar.
Luiza Roberta Dias

8 de fevereiro de 2012